sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A pedra

A brincadeira acabou. O "preciso tomar jeito", o "segunda-feira começo de verdade", o "falta muito ainda" já eram. Domingo começa a maratona, ou melhor, recomeça a maratona num lugar familiar: a Escola Politécnica da UFBA (local da segunda fase do vestibular de 2007). Mas a intenção desse texto não é manifestar nenhum possível desespero mediante a iminência da prova. Tá, em parte é isso sim, mas tem mais uma coisa. Peço licença aos meus caríssimos companheiros patos para fazer uma homenagem, um agradecimento. Começá-lo-ei contando uma história.
Aconteceu há pouco mais de um ano. Estava eu em Floripa, revoltado com o 1 que havia tirado em Cálculo, conversando com a digníssima homenageada ao telefone. Eu, desestimulado com o curso, perdido, sem a mínima paciência pra integrar função nenhuma ou escalonar porra de matriz. Ela, revoltada com o curso de Direito, de saco cheio de tudo aquilo.
-Vamos fazer Medicina?
-Só se você passar um ano na África fazendo trabalho voluntário comigo.
-Eu tô falando sério!
-Eu também!
-Então, pronto. Vou largar e seja o que Deus quiser.
-Fudeu!
Tututututututu...

Pois bem. Foi assim que, de fato, o primeiro passo foi dado. Agora, daqui de perto do topo eu vejo como o troço é alto! Bate aquele friozinho na barriga, parecido com o do Insano, sabe? Subimos tanto! Falta bem pouco pro cume! É agora que vem a tal parte do agradecimento. Olhando daqui de cima eu posso imaginar onde eu estaria agora se tivesse começado isso tudo sozinho. Possivelmente, nem perto do meio da metade do começo do primeiro quarto dos dez por cento iniciais do percurso. Não digo isso por falsa modéstia, não. Sei que tenho potencial e blá blá blá. O que quero contar aqui é a forma extraordinária com que uma bochechuda de olhos verdes me motivou. Quando que eu acordaria numa manhã de domingo, olharia pras árvores imóveis na rua pela falta de vento, prum céu azulzão e rumaria no sentido oeste, mais precisamente em direção ao Orion? Quando, pelamordedeus?! É, difícil de imaginar. Mas aconteceu não uma nem duas, mas o ano inteiro. Ela esteve comigo em absolutamente todos os momentos, empurrando, cobrando, incentivando, amando. Em cada tropeço em simulado, em cada sucesso. Em domingões no CIC, em consultas médicas, nas noites das quartas-feiras... Ah, as noites das quartas-feiras!...
Retomando. Olhando daqui de cima, vejo que não foi tão tortuosa assim a subida. Com tão bela companhia, qualquer Everest vira uma Serra de Itabaiana (não que eu já tenha ido lá alguma vez)!
Agora, pra terminar, uma letra que eu tenho certeza que se já não tivesse sido escrita, eu a teria composto agora!

Me resolvi por subir na pedra mais alta
Pra te enxergar sorrindo da pedra mais alta
Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto
Olhos feito pérola, cabelo feito manto

Sereia bonita sentada na pedra mais alta
To pensando em me jogar de cima da pedra mais alta
Vou mergulhar, talvez bater cabeça no fundo
Vou dar braçadas remar todos mares do mundo

O medo fica maior de cima da pedra mais alta
Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta

Quero deitar na tua escama
Teu colo confessionário
De cima da pedra não se fala em horário
Bem sei da tua dificuldade na terra
Farei o possível pra morar contigo na pedra



Obrigado, minha menina!

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